Precisamos dizer, urgentemente, aos meninos com medo do futuro, que só se combate o caos atual, acabando com a insustentabilidade social, com a fome e a miséria. É preciso transformar a estrutura social, injusta e predatória que corrói o país.
Conheço crianças e adolescentes aterrorizados com o que julgam ser o fim do mundo. Precisamos urgentemente dizer-lhes que somente deles pode vir uma nova consciência planetária, que a Terra está realmente em agonia e que atingiu seu estado crítico. E isso porque nosso comportamento é destrutivo e egoísta e remonta há mais de 100 mil anos, quando começamos a atear fogo nas florestas, poluindo e esgotando os recursos naturais, supervoando e, enfim, incapacitando o futuro da vida.
Precisamos de um esforço extraordinario para ensiná-los esta nova forma de viver. Talvez a única possível, de agora em diante: respeito a tudo o que é vivo, responsabilidade cotidiana em cada ato; a percepção de que tudo está interligado, que Terra e Homem formam um único organismo e que o futuro só será menos aterrorizante se nos reconciliarmos com as sábias leis que regem este vasto complexo biológico.
Como diz o velho Samuca, habitante anônimo do "Parque NacionalGrande Sertão Veredas", em Minas Gerais, que é um homem que nunca frequentou a escola: "Nós estamos andando na Terra como um bando de cegos. Donde só se tira e num si põe. Um dia tudo mais tem que se acabar".
Este grande jardim planetário chegou ao caos, ao ponto da extrema desordem. É necessária uma mobilização mundial, um gigantesco esforço para reduzir a emissão dos gases estufa, para substituir o carbono fóssil, para interromper o envenenamento do ar.
Tudo o que temos feito é muito pouco. Navegamos entre a omissão e a hipocrisia. Veja o que estamos deixando acontecer com a maior riqueza deste país, a Floresta Amazônica, vasto espaço verde de mais de 5 milhões de km quadrados, de extrema importância para a regulação da temperatura do planeta. Já permitimos que 17% de sua área fosse arrasada, o equivalente a duas Alemanhas e a três estados de São Paulo. Isso dentro de um país, cuja constituição declara que a Floresta Amazônica é patrimônio nacional. Somos um povo que tem seu nome derivado de uma árvore e deveríamos ver cada árvore como um monumento vivo de nossa cultura e história.
Temos que explicar, urgentemente, aos meninos com medo do futuro que é possível mitigar os efeitos do aquecimento global, desde que a gente tome pra si, agora, esta missão de limpeza e regeneração: respeitar a natureza como parte de nós mesmos, consumir menos, produzir menos lixo, reciclar o lixo, consumir menos eletricidade, menos água, andar mais a pé ou de bicicleta. E, numa escala mais ampla, exigir matérias-primas com certificação como a madeira (que deve ser de florestas plantadas e ter selo de origem) e exigir a imediata interrupção do desmatamento na Amazônia, na Mata Atlântica e nos demais ecossistemas.
Aprendi o que era sustentabilidade, ou um de seus vários nomes, quando uma tempestade de chuva ácida caiu sobre a minha cabeça, em Cubatão, no início dos anos 70. Quando vi que aquela chuva e toda a poluição do Vale da Morte produzia crianças sem cérebro. E quando vi que a desgraça atinge, sobretudo, os mais pobres. Aí resolvi me colocar a serviço da celebração da vida.
Precisamos dizer, urgentemente, aos brasileiros, sobretudo aos meninos com medo do futuro, que a maior de todas as tarefas contra os efeitos do aquecimento global é combater a insustentabilidade social , é preciso acabar com a fome e a miséria, é preciso transformar esta estrutura social, injusta e predatória que corrói o país.
É preciso que este princípio universal deixe de ser utopia: "todo homem tem direito à saúde, à educação, à cultura..."